Elisângela Feitosa de
Souza
Breves Considerações
A Psicologia Social é um ramo da psicologia que procura estabelecer
uma ponte entre a psicologia e as ciências sociais, dentre as quais podemos
destacar não apenas a sociologia, mas também a antropologia, a história e,
inclusive, a ciência política.
Dentre os postulados da Psicologia Social que interessam de modo mais
específico a ciência política está a
ideia de que fora das motivações psicológicas, não é possível ter uma compreensão
satisfatória dos fatos sociais e, por concomitantemente, do processo político.
O que está na base dos fenômenos políticos, para a Psicologia Social, é que os
fundamentos do poder e da obediência são de natureza psicológica.
A Psicologia Social se interessa, como a Sociologia ou a
Antropologia, pelo do comportamento social dos indivíduos, mas dando ênfase aos
processos sócio-cognitivos que possam explicar tais comportamentos. Enquanto
ciência empírica utiliza métodos diversificados de pesquisa para o estudo
sistemático do comportamento social humano: de como os pensamentos, sentimentos
e comportamentos das pessoas são influenciados pela presença – concreta ou
imaginada – de outros indivíduos. A Psicologia Social se interessa por temas
como o preconceito, a violência, processos de grupo, entre outros.
A
Psicologia Social enxerga o individual de modo mais amplo e se interessa por
entender como as forças sociais atuam sobre os indivíduos e vice-versa. E por
isso interessa também à ciência política, no sentido de que aquilo que é vivido
no campo individual contribui de alguma forma para a melhora ou piora da
sociedade, para a manutenção ou quebra de paradigmas, implica nas motivações
pessoais de luta pelo poder dominante.
E
é a esta relação que se dedica principalmente esta seção: compreender quais
motivações psicológicas podem influenciar não apenas as relações pessoais, mas
sociais e políticas, entendendo o ser humano como um ser eminentemente social e
político.
O ser humano isolado do contexto social
Na perspectiva de estar envolvido na sociedade
e nesta manter relações e contribuir para com seu desenvolvimento, o homem é
eminentemente um ser social e que, portanto, desta é dependente.
Não seria necessário atribuir vantagens e
desvantagens de como a sociedade e o papel desta, é importante no processo de
formação do homem. Este ser que desde o berço recebe influência, e no decorrer
de sua vida, outrossim, parece deixar-se moldar por ela. Porém pode o homem
viver fora dela? Perdido em uma floresta, ou em uma ilha, passando a conviver
com outros seres, ou ainda retirado dela por imposição de outro?
Obras como “O menino
selvagem”, “Ensaio sobre a cegueira”, e “Náufrago”, são exemplos de como fatos
como estes são vivenciados – mostrando de fato o que a ausência do coletivo, da
interação – enfim, da sociedade causa nas pessoas.
O papel da civilização está inteiramente
ligado à formação da personalidade do homem; e quando esta não está inserida
nele, o que o influenciará? O menino selvagem conta a história de um
adolescente que, privado de educação por ter vivido afastado dos indivíduos da
sua espécie, é encontrado em uma floresta vivendo em condições desumanas, pois
este já não tinha hábitos humanos, andava com os pés e as mãos no chão, subia
em árvores, comia raízes. Quando o menino selvagem é retirado da floresta, é
feito com ele um processo de socialização – pois este atribuíra a sua
personalidade, agentes biológicos e físicos do meio ao qual estava inserido. De
início, não iria ser fácil socializá-lo, agora com quase 13 anos, o menino
selvagem teve de passar por vários testes, a fim de aprender, embora
lentamente, a falar, a andar, comer com colher, usar roupas, etc. Graças à
educação e a cultura atribuída ou imposta ao menino selvagem – Victor fora aculturado
e aos poucos se tomando por hábitos humanos.
O Náufrago retrata a vida de um homem contemporâneo em que seu
cotidiano é corrido, pois traba
lha demasiadamente, assim tem pouco tempo para a família e assuntos
sentimentais. Vive em uma ilha por quatro anos, após um acidente de avião, ele
fora o único sobrevivente. O personagem carrega com ele todos esses anos, uma
fotografia de sua esposa e uma bola de vôlei, a qual dá o nome de Wilson. O
personagem tenta adaptar-se aquele ambiente, o qual desconhece, no entanto,
tenta desvendar todos os modos de sobreviver àquilo. Desde o fazer do fogo para
aquecer-se, a glória de conseguir pegar um peixe, e até mesmo suportar as dores
humanas naturais ou não. Como agiam nossos ancestrais, ele descobre a caverna e
lá fez seu lar; de um modo surpreendente, não se deixa perder seus instintos e
inteligência, passa a escrever e marcar nas pedras todos os meses que ali
estivera; quanto ao isolamento, fez de uma bola sua companhia – sentia a
necessidade de comunicação, e nela com seu próprio sangue pintou a face de um novo amigo. Após
ser encontrado e resgatado, volta para o seu meio social de outrora. Ali,
diferente da obra “O menino selvagem”, não houve conflito em sua volta a
sociedade, já era adulto quando esteve sozinho, resta uma readaptação ao
convívio social.
O ensaio sobre a cegueira, filme baseado na obra do escritor
português, José Saramago, conta a trama de uma cidade que é acometida por uma
epidemia sem nome, uma cegueira branca contagiosa. No decorrer da história toda
a sociedade vai se dissolvendo, assim como os valores, a dignidade humana, os
princípios morais – é percebível quando tais pessoas contagiadas são colocadas
isoladas de tudo e de todos, em um local indigno de se viver. Todos ali são
postos sem cuidados e sem previsão para pesquisar a cura. As pessoas ali voltam
ao estágio inicial de suas vidas, onde terá que aprender a viver de outra
maneira, adaptando-se a falta da visão, neste sentido é deixado de lado o
individualismo, percebendo que diferente será o caminho que terão de seguir, na
descoberta dolorosa do eu e do outro, do coletivismo.
Diante destas
obras, e de sua relação com a Psicologia Social, é notável que o homem detém
toda a história e o poder sobre as sociedades e de suas relações, influências
ou contribuições, sejam estas boas ou não. Há quem diga e defenda que a
sociedade molda o homem e que dela este depende. Mas até que ponto precisou
dela, e por que nela não somos e agimos como iguais ou ainda, coletivos? Por
que há o individualismo? Será preciso isolar-se da sociedade para reconhecer-se
que precisamos um do outro, reconhecer a essência que há nisso tudo? Os valores
morais estão sendo perdidos, o dedicar-se ao eu interior, a observação dos
comportamentos próprios, o importar-se com a dignidade e o respeito pelo outro,
são marcas que não devem ser deixadas, esquecidas ou ameaçadas.
Referências
Bibliográficas
SARAMAGO, José. Ensaio
sobre a cegueira. Brasil, 2008.
TRUFFU, François. O
menino selvagem. França, 1798.
ZEMECKIS, Obert. Náufrago.
EUA, 2008.
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